sexta-feira, 8 de agosto de 2014

SÃO DOMINGOS DE GUSMÃO

Neste dia 8 de agosto celebramos a memória litúrgica de São Domingos de Gusmão (Espanha, 1170-1221), presbítero e fundador da Ordem dos Pregadores (Dominicanos).
São Domingos nasceu em 24 de junho de 1170, na pequena vila de Caleruega, na Velha Castela, atual Espanha. Pertencia a uma ilustre e nobre família, muito católica e rica: seus pais eram Félix de Gusmão e Joana d'Aza e seus irmãos, Antonio e Manes. O primeiro tornou-se sacerdote e morreu com odor de santidade. O segundo, junto com a mãe, foi beatificado pela Igreja.
Nesse berço exemplar, o pequeno Domingos trilhou o mesmo caminho de servir a Deus. Até mesmo o seu nome foi escolhido para homenagear são Domingos de Silos, porque sua mãe, antes de Domingos nascer, fez uma novena no santuário do santo abade. E, como conta a tradição, no sétimo dia ele lhe teria aparecido para anunciar que seu futuro filho seria um santo para a Igreja Católica.
Domingos dedicou-se aos estudos, tornando-se uma pessoa muito culta. Mas nunca deixou a caridade de lado. Em Calência, cidade onde se diplomou, surpreendeu a todos ao vender os objetos de seu quarto, inclusive os pergaminhos caros usados nos estudos, para ter um pequeno "fundo" e com ele alimentar os pobres e doentes.
Aos vinte e quatro anos, sentindo o chamado, recebeu a ordenação sacerdotal. Foi enviado para a diocese de Osma, onde se distinguiu pela competência e inteligência. Logo foi convidado para auxiliar o rei Afonso VII nos trabalhos diplomáticos do seu governo e também para representar a Santa Sé, em algumas de suas difíceis missões.
Durante a Idade Média, período em que viveu, havia a heresia dos albigenses, ou cátaros, surgida no sul da França. O papa Inocêncio III enviou-o para lá, junto com Diego de Aceber, seu companheiro, a fim de combater os católicos reencarnacionistas. Mas, devido à morte repentina desse caro amigo, Domingos teve de enfrentar a missão francesa sozinho. E o fez com muita eficiência, usando apenas o seu exemplo de vida e a pregação da verdadeira Palavra de Deus.
Em 1207, em Santa Maria de Prouille, Domingos fundou o primeiro mosteiro da Ordem Segunda, das monjas, destinado às jovens que, devido à carestia, estavam condenadas à vida do pecado. Os biógrafos narram que foi na igreja desse convento que Nossa Senhora apareceu para Domingos e disse-lhe para difundir a devoção do rosário, como princípio da conversão dos hereges e para a salvação dos fiéis. Por isso os dominicanos são tidos como os guardiões do rosário, cujo culto difundem no mundo cristão através dos tempos.
A santidade de Domingos ganhava cada vez mais fama, atraindo as pessoas que desejavam seguir o seu modelo de apostolado. Foi assim que surgiu o pequeno grupo chamado "Irmãos Pregadores", do qual fazia parte o seu irmão de sangue, o bem-aventurado Manes.
Em 1215, a partir dessa irmandade, Domingos decidiu fundar uma Ordem, oferecendo uma nova proposta de evangelização cristã e vida apostólica. Ela foi apresentada ao papa Inocêncio III, que, no mesmo ano, durante o IV Concílio de Latrão, concedeu a primeira aprovação. No ano seguinte, seu sucessor, o papa Honório III, emitiu a aprovação definitiva, dando-lhe o nome de Ordem dos Frades Predicadores, ou Dominicanos. Eles passaram a ser conhecidos como homens sábios, pobres e austeros, tendo como características essenciais a ciência, a piedade e a pregação.
Em 1217, para atrair a juventude acadêmica para dentro do clero, o fundador determinou que as Casas da Ordem fossem criadas nas principais cidades universitárias da Europa, que na época eram Bolonha e Paris. Ele se fixou na de Bolonha, na Itália, onde se dedicou ao esplêndido desenvolvimento da sua obra, presidindo, entre 1220 e 1221 os dois primeiros capítulos gerais, destinados à redação final da "carta magna" da Ordem.
No dia 8 de agosto de 1221, com apenas cinqüenta e um anos de idade, ele morreu. Foi canonizado pelo papa Gregório IX, que lhe dedicava especial estima e amizade, em 1234. São Domingos de Gusmão foi sepultado na catedral de Bolonha e é venerado, no dia de sua morte, como Padroeiro Perpétuo e Defensor dessa cidade.
Oração
Ó Deus, que os méritos e ensinamentos de são Domingos venham em socorro da vossa Igreja, para que a grande pregador da vossa verdade seja agora nosso fiel intercessor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

EM CADA NOVO DIA


Que essa seja a disposição do nosso coração no dia de hoje: cruzar o nosso olhar com o olhar de Jesus! E permitir que o Senhor nos olhe pro dentro e transforme tudo o que ainda em nós não está de acordo com a proposta de Jesus! 

Padre Roger Luis

E O SEXO ? QUAL SIGNIFICADO ELE TEM OU DEVERIA TER ?

O que digo quando faço sexo?
Toda palavra é uma tentativa de comunicação. Todo gesto traz em si uma forma de se comunicar. Um aperto de mão, aqui no Brasil, é sinal de cordialidade. Para o gaúcho, dar uma cuia de chimarrão para alguém tomar é, no mínimo, dizer “pode fazer parte de nossa roda de amigos”; tomar um café oferecido por um mineiro é aceitar o acolhimento oferecido por ele.
E o sexo? Qual significado ele tem ou deveria ter?
Gestos brasileiros comunicam muita coisa. Mas se observarmos outras culturas teremos diferentes gestos que falam muito. Na cultura tibetana, por exemplo, algumas tribos cumprimentavam-se mostrando a língua em sinal de que jamais pronunciariam palavras ofensivas contra o amigo. Já os nativos de Nova Guiné, quando uma pessoa querida vai embora, eles se despedem chorando e enlameando-se totalmente. Gestos que trazem muito significado para eles.
E o sexo? Qual significado ele tem ou deveria ter? Quando tenho uma relação sexual, o que eu estou dizendo com esse gesto? Que significado ele tem? O que traz como sentido para a vida daqueles que ali estão envolvidos?
Toda relação sexual diz: “Eu me dou por inteiro para você e o recebo por inteiro. Uma vez que me dou e o recebo, é para sempre que o faço”.
Aí, você pode dizer: “Cara, isso é muito radical! Não vejo o sexo assim. Para mim é só prazer, um momento de ter gozo e pronto! Essa definição que você trouxe é muito romantizada”. Aí eu lhe digo: “Cara, desculpe-me, não tem como você falar para um tibetano: ‘Essa sua língua para fora, para mim, é falta de respeito’. Ele vai olhar para você e dizer: ‘Esse é o sentido para mim, mostrar a língua é sinal de amizade’.”
O que quero dizer é que quem criou o sexo foi Deus e Ele colocou um sentido, um significado para esse gesto. Queira você ou não, todas as vezes que tiver uma relação sexual estará dizendo: “Eu me dou por inteiro para você e o recebo por inteiro. Uma vez que me dou e recebo, é para sempre”.
No entanto, se você diz isso numa relação sexual, mas essa não é a sua verdade, pois para você será só prazer de momento, algo de corpo somente, o que está vivendo é, na realidade, uma mentira.
Diz: “Dou-me por inteiro e o recebo por inteiro”, mas doa só o corpo e só recebe o corpo. Você não doa seus sentimentos, suas emoções, seus desejos, seu amor e sua alma. Então, é mentira sua relação.
Digo: “Dou-me e recebo em vista de um ‘para sempre’”. Todo encontro nos marca para sempre, ainda mais uma relação sexual! Mas o que acontece depois de algumas relações sem compromisso? Você veste suas calças, dá um beijo de adeus (talvez) e não a vê mais.
Ou você vai me dizer: “Adriano, estamos juntos há três anos. Temos relações sexuais e a certeza de que iremos nos casar”. Então, eu lhe digo que ainda está “ruidosa” essa relação sexual, pois com a alma e corpo vocês dizem “somos inteiros um para o outro”, mas como somos seres espirituais, falta a parte de Deus nessa relação, falta o compromisso frente a Ele, diante do altar que tudo eleva à plenitude. Então, meu caro, ainda não é total esse sexo.
Quando Deus diz que o sexo é entrega total em vista de um “para sempre”, ele coloca um ingrediente indispensável para tal objetivo: o amor.
O amor ordena sentimentos, emoções, impulsos sexuais em vista de uma entrega total e para sempre de duas pessoas que se amam. Quando namoramos e nos guardamos para o casamento, o amor nos educa para protegermos a pessoa amada, nos faz esperar para nos darmos por inteiros e de maneira definitiva. Quando casamos e vamos para as núpcias, o amor nos leva a tocar na total entrega de duas pessoas que se amam; entrega não só dos corpos, mas das almas em uma profunda sintonia de espírito. O Espírito Santo, ali presente, sela aquele amor em torno do eterno!
Você, então, pode dizer: “ Você está dizendo que sexo é isso, mas para mim sexo é só momento de extravasar e pronto!”.
Desculpe-me, mas quem criou o sexo foi Deus, e como fabricante ele deu o “manual de instruções”. Não o ler ou interpretá-lo segundo o que você pensa, pode fazê-lo não viver a plenitude de tudo o que o espera.
Muitos querem viver a sexualidade como um “não” à pessoa. Não há uma sexualidade sadia sem uma perfeita ordem de amor.
O amor promete o ‘para sempre’, e o sexo será, no casamento, um dos gestos de dar-se por inteiro a quem se ama!

Adriano Gonçalves

ALCANÇAR A SABEDORIA

Quando estou diante de uma situação em que tenho de dar uma resposta, quando estou diante de um fato, tenho de perguntar ao Senhor: "O que devo fazer?".

Começo, então, fazendo uma oração, pedindo ao Senhor, apresentando-me a Ele. Tenho de envolver aquela pergunta em oração e, assim, começar a orar. Tenho de dizer ao Senhor, com toda humildade, "quero, Senhor, Vossa resposta". Essa humildade é a chave de tudo. O que nos atrapalha muito é o orgulho, porque pesamos saber tudo, nos julgamos capazes de tudo resolver. 

"Senhor, eu não sei qual é o melhor caminho, eu não sei o que fazer".

Depois, se perguntou algo a Deus em oração, espere a resposta em oração. Não vou contar que Deus me responda logo. Muitas vezes, Ele pode demorar a me dar outra resposta. Eu, pacientemente, continuo orando, continuo escutando Deus, até colher a resposta.
Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova

DEUS NOS PÔS NESSE MUNDO PARA AMAR

Deus nos pôs neste mundo para amarmos uns aos outros. Ele nos colocou nesta terra para implantar a civilização do amor.

Por todos os lados, vemos as marcas de um cruel desamor que nos escandaliza. "Afinal de contas, Deus não é amor? Então, por que a humanidade está nesta terrível situação de desamor?" A grande resposta é essa: Jesus já fez a parte d'Ele. Antes, porém, de voltar ao Pai, Ele nos deu uma missão muito concreta:

"Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Ide, pois, de todos as nações, fazei discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar tudo o que vos ordenei. Quanto a mim, eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos tempos" (Mt 28,18-20).

Em outras palavras, Jesus passou o bastão para nós. Agora, é nossa vez de ir e fazer discípulos em todas as partes.

O que Jesus ordenou? Um mandamento novo. "E eu vos digo: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, vós também vos amai uns aos outros. Nisso, todos reconhecerão que sois meus discípulos: no amor que tiverdes uns para com os outros" (cf. Jo 13,34-35). 

Jesus viveu com Seus discípulos durante todo aquele tempo, treinando-os no amor. O Senhor os amou primeiro e os foi formando para se amarem uns aos outros com todas as diferenças e com todas as durezas que havia entre eles: "Como eu vos amei, vós também amai-vos uns aos outros".

Jesus precisa nos treinar no amor efetivo uns para com os outros, para irmos e formarmos discípulos, ensinando-os, com nossa vida, a amar como Jesus nos 

Daí, você vê que o mundo está como está, porque nós não amamos, porque não assumimos o bastão que Jesus pôs em nossas mãos, porque não formamos discípulos. A civilização do amor acontecerá quando pusermos o amor em prática em nossa vida. 

Em outras palavras, o mundo novo depende de nos amarmos ou não, de formarmos discípulos ou continuarmos "na nossa".

Diante de todo o desamor do mundo, amar será nosso bom combate. O Senhor não desiste de nós. Ele, que formou Seus apóstolos (e não foi fácil), quer nos formar combatentes no amor. 

Além de mostrar que esse é o caminho para a santidade e que o amor se faz mediante atitudes concretas, Jesus nos diz que seremos julgados pelo amor. Ele afirma: o que fazemos ou deixamos de fazer em gestos concretos de amor é a Ele que o fazemos ou não. Nesse julgamento, ou recebemos o primeiro prêmio ou o castigo máximo.

Ele quer nossa santidade, por isso nos dá uma ordem: "Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou Santo".

Essa não é uma simples recomendação, é uma ordem! Sabemos que o segredo para ser santo é amar o próximo com gestos concretos; e a primeira regra para ser discípulos de Jesus é renunciarmos a nós mesmos.

Deus sabe que somos egoístas e que sempre queremos o melhor para nós, por isso nos ensina a amar o próximo. É como se Ele nos dissesse: "Vocês têm um amor-próprio muito grande, são egoístas, egocêntricos, sempre buscam o melhor para si. Justamente por causa disso, amem ao próximo como vocês amam a si mesmos!" 
Monsnhor Jonas Abib

SÓ DEUS TEM O PODER DE TRANSFORMAR O NOSSO CORAÇÃO

A Palavra de Deus tem o poder de transformar o nosso coração, e a transformação acontece pelo corte, quando nós somos capazes de, no poder de Deus, combater aquilo que não é d’Ele.
“Não penseis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas sim a espada” (Mateus 10, 34).
Quando ouvimos o Evangelho de hoje causa-nos até uma certa estranheza em nosso coração porque as palavras de Jesus parecem muito duras e até humanamente difíceis de ser compreendidas por virem da boca do Mestre. Ele vem nos dizer que não veio trazer a paz, mas a espada; que Ele não veio trazer, em certo sentido, a união, mas a divisão dentro de uma casa ou dentro de uma família; e do outro lado, parece que Ele despreza o amor humano e dá a primazia somente ao amor divino.
Deixe-me fazer você entender e compreender aquilo que Deus fala ao nosso coração. Primeiro:não se chega à paz se não cortamos dentro de nós aquilo que não constrói a paz. Por isso quem é do Reino de Deus não fica simplesmente acomodado dizendo que está tudo bom e conformado com tudo. Não, primeiro você deve pegar a espada do Espírito e cortar dentro de você aquilo que não é de Deus. Você não deve se conformar com o pecado que há em você; você não deve se conformar com os comportamentos indignos, com as palavras horríveis que, muitas vezes, saem de nossa boca e com os sentimentos do nosso coração que dizem: “Não, é assim mesmo! Eu sou assim mesmo, pronto e acabou!”
Não, meu querido, a Palavra de Deus tem o poder de transformar o nosso coração. E a transformação começa pelo corte, quando nós somos capazes de, no poder de Deus, combater e cortar aquilo que não é d’Ele.
Não fique vivendo na falsa paz do conformismo e do “está tudo bom”. Faça uma violência dentro de você mesmo, faça uma violência dentro da sua casa – e a violência aqui não quer dizer briga, não quer dizer desunião nem combate de um contra o outro, mas sim a espada do Espírito, que vai cortando em nossa casa, em nossa carne e ao redor de nós tudo aquilo que não é de Deus.
Pode ser que na sua casa haja aqueles que não aceitem a Palavra de Deus e vivam uma vida até descomprometida com ela [Palavra de Deus]. Não é para viver na paz e no amor que você vai fazer as coisas erradas que os seus estão fazendo. Não, pelo amor que você tem à Palavra de Deus, você deve buscar a coerência de vida. Não é preciso fazer guerra, não é preciso acusar ninguém, mas é preciso manter a coerência da opção e da escolha [pelo Reino de Deus].
Há músicas que não convêm a cristãos; há conversas, palavras, filmes, programas e lugares que não nos convêm. Daí, muitas vezes, a espada de Deus nos divide.
“Ah, mas eu amo demais os meus!”. Quem ama qualquer um mais do que a Jesus não é digno d’Ele! “E o que vou fazer? Vou desprezar a quem amo?” Não, o amor humano é fraco demais, inconsistente demais. Se você quer amar alguém com o amor verdadeiro, ame-o com o amor do Coração de Deus! Ame primeiro a Deus e, desse modo, você terá sempre forças para amar até o que é difícil e, muitas vezes, insuportável.
Padre Roger Araújo

MARIA É MÃE DE DEUS ?

A Virgem Maria é verdadeiramente a Mãe de Deus, do Filho do Altíssimo?
Maria é mãe de Deus?A presença da Virgem Mãe de Deus no meio do povo de Israel era tão discreta que passava quase despercebida aos olhos dos seus contemporâneos, mas brilhava bem clara diante do Eterno. Tanto que, já no Antigo Testamento, o Senhor associou a “Filha de Sião”1 ao Seu plano de salvação para toda a história da humanidade. Para compreender esse mistério, o Concílio Vaticano II nos ajuda ao apresentar em seu magistério a Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja2. De fato, se “o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente”3, então é necessário aplicar esse mesmo princípio, de modo muito particular, àquela “Mulher” extraordinária que se tornou Mãe de Deus. Pois só no mistério de Cristo “se esclarece” plenamente o mistério, especialmente a sua maternidade divina.
Desde o princípio, o mistério da Encarnação permitiu à Igreja entender e esclarecer, cada vez mais, o mistério da Mãe do Verbo de Deus feito carne. Nesse aprofundamento teológico, teve importância decisiva o Concílio de Éfeso, que aconteceu em 431, durante o qual, com grande alegria para os cristãos, a verdade sobre a maternidade divina de Maria foi confirmada solenemente como dogma, verdade de fé da Igreja. Maria é Mãe de Deus (Theotókos), porque, por obra do Espírito Santo, concebeu no seu seio virginal e deu ao mundo Jesus Cristo, o Filho de Deus, consubstancial ao Pai. Ele, ao nascer da Virgem Maria, “tornou-se verdadeiramente um de nós”4, fez-se Homem. Desse modo, mediante o mistério de Jesus Cristo, resplandece plenamente no horizonte da fé da Igreja o mistério da Sua Mãe. Por sua vez, o dogma da maternidade divina de Maria foi para o Concílio de Éfeso, e continua sendo para a Igreja, como que um selo de autenticidade no dogma da Encarnação, na qual o Verbo assume realmente a natureza humana, sem a anular, na unidade da Sua Pessoa.
Os diálogos já realizados pela Igreja Católica com as Igrejas Orientais e com as Igrejas e Comunidades Eclesiais do Ocidente voltam-se, cada vez mais, para dois aspectos inseparáveis do mistério da salvação: “Se o mistério do Verbo Encarnado nos faz vislumbrar o mistério da maternidade divina e se a contemplação da Mãe de Deus, por sua vez, nos introduz numa compreensão mais profunda do mistério da Encarnação, o mesmo se deve dizer do mistério da Igreja e da função de Maria na obra da salvação”5. Ao aprofundarmos o mistério da Igreja e o mistério de Maria e ao tentar esclarecer um por meio do outro, nós cristãos, desejosos de fazer – como nos recomenda a Sua Mãe – o que Jesus lhes disser6, poderemos progredir juntos na peregrinação da fé, da qual Maria é sempre o exemplo e que deve conduzir-nos à unidade, querida pelo seu único Senhor e tão desejada por aqueles que estão prontos a ouvir atentamente o que o Espírito diz hoje às Igrejas7.
É um bom sinal que essas Igrejas e Comunidades eclesiais estejam de acordo em pontos fundamentais da fé cristã, inclusive no que diz respeito à Virgem Maria. Essas Igrejas e Comunidades reconhecem a Virgem Maria como Mãe de Deus e essa doutrina faz parte da nossa fé em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Também voltam para Maria o olhar, aceitando ser ela que, aos pés da cruz, acolhe o discípulo amado como seu Filho que, por sua vez, a recebe como mãe8. Dessa forma, por que não olhar todos juntos para a nossa Mãe comum, para aquela que intercede pela unidade da família de Deus e que vai à sua frente na longa peregrinação das testemunhas da fé no Filho de Deus, concebido em seu seio virginal por obra do Espírito Santo?
A Virgem Maria é invocada pelas Igrejas Orientais e pela Igreja Católica e é lembrada por todas as Comunidades Eclesiais em razão da sua presença nos símbolos de fé e na Sagrada Escritura. Os protestantes tem direito de não dirigir suas orações a Mãe do Senhor, pois toda oração e todo louvor devem ser dirigidos só a Deus, ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Entretanto, os católicos recorrem a Maria para pedir sua intercessão junto a Deus, não que ela seja necessária ou mais eficaz, mas para entrar com ela na grande intercessão que é a partilha incessante e solidária entre os crentes, que nem mesmo a morte poderia deter9. Pois, a intercessão é a conversação eterna dos fiéis com Deus, no cuidado de uns para com os outros.
Assim, os católicos podem legitimamente se dirigir a Mãe de Deus, como fazem na oração mariana do Ângelus ou no Rosário (Terço), pedindo a ela que reze por eles. Não podemos pedir aos que dirigem suas orações a Maria para renunciar a isso, nem aos que apenas recordam a sua figura bíblica para que orem a ela. Todavia, os dois lados devem ser, em sua compreensão de fé, testemunhas das convicções de seus irmãos. Dessa forma, essas convicções religiosas não seriam mais causa de separação, mas de “reconhecimento das diferenças”10 no interior de uma unidade já presente, mais ainda não em plenitude.

Natalino Ueda