segunda-feira, 3 de dezembro de 2012



QUANDO DEVEMOS ORAR ?


Um dos maravilhosos conselhos que o Senhor nos dá e que precisamos seguir fielmente para o nosso bem é este: “Orai sem cessar (I Ts 5,17)”.
Oração é uma necessidade vital. “Nada se compara em valor à oração; ela torna possível o que é impossível, fácil o que é difícil” (CIC  2744).
Não dá para rezar somente quando temos vontade, porque raramente a temos, ou quando temos tempo, pois a concepção que muitos têm da oração é que orar é perda de tempo.
Muitos conflitos interiores que vivemos perderão a força se orarmos verdadeiramente na presença do Senhor, porque a oração põe tudo no lugar.
Santo Espírito de Deus,  ajudai-nos a orar em todo o tempo e em todas as situações.
Jesus, eu confio em vós!
Luzia Santiago

É PRECISO SUPORTAR A PROVAÇÃO

Nossa vida é um campo de batalha, na qual travamos, dia a dia, uma luta corpo a corpo com o pecado. É a prova pela qual todos passamos. Como sempre digo, meus irmãos, se lutamos e vencemos, adquirimos têmpera como o aço doce que passa pelo fogo. Se cedemos ao pecado, seremos sempre "aço mole e quebradiço", que não resiste à coisa alguma, porque não adquiriu têmpera. Essa virtude somente será adquirida quando lutarmos e dominarmos o pecado na nossa própria carne. Em outras palavras: é a decisão de dominar e vencer o pecado a cada dia por meio do "PHN", dizendo "não" ao pecado.

São Tiago nos explica bem isso: "Feliz o homem que suporta a provação, porque depois de testado, recebera a coroa da vida, prometidas àqueles que o amam" (Tg 1,12). É preciso suportar a provação! Quem vive cedendo ao pecado, não chega a lugar e à coisa alguma. Será sempre mole como o aço doce. Suportar é sinônimo de aguentar, por isso eu só posso lhe dizer: "Aguente firme!", porque é assim que eu e você receberemos a coroa da vida.

Portanto, você já entendeu que o segredo está em colocar um "breque no ponto de partida" do pecado: a concupiscência. E por sermos fracos temos de ser determinados como os alcoólatras e dependentes químicos. Eles aprendem que a única maneira de deixar o vício é ao se decidirem a fazê-lo. A decisão tem de ser radical! Com o pecado é a mesma coisa: é preciso tomar a decisão e romper definitivamente com ele. É preciso assumir o PHN – Por hoje não, por hoje não vou mais pecar! 

Se em algum momento, o seu corpo estiver "pedindo" por aquele pecado, pedindo bebida, droga ou sexo desregrado, aguente firme e peça ajuda ao Espírito Santo. Eu e você não podemos ceder à vontade de fazer tudo o que queremos. Em geral, pensamos que pelo fato de sentir "vontade", precisamos realizá-la. É justamente o contrário. É assim que adquirimos têmpera. É assim que nos tornamos vitoriosos neste campo de batalha. Você não está sozinho!

Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova

POR QUE DEUS PERMITE O SOFRIMENTO ?


A liberdade é o toque maior de nossa semelhança com Deus
Para que o homem fosse “grande”, digno, nobre, Deus o fez livre, inteligente, dotado de mãos maravilhosas, sensibilidade, vontade, memória, etc., que nem as pedras, nem as árvores e nem os animais receberam.
A liberdade é o toque maior de nossa semelhança com Deus. Ele teve de correr o risco de nos fazer livres, para que fôssemos dignos, mesmo sabendo que a criatura poderia lhe voltar as costas; isto é, pecar e comprometer seu Plano de amor.
Deus não poderia impedir o homem de lhe dizer Não; senão lhe tiraria a liberdade, e ele seria apenas um robô. E Deus não quis isto. Mas Deus nos deu a inteligência, como uma luz para guiar os nossos passos, e nos deu a vontade para permanecer no bem e evitar o mal.
Ele quis fazer a criatura humana livre, como Ele, criou-o da melhor maneira possível, à sua Imagem. É a liberdade que nos diferencia dos animais, dos robôs e dos teleguiados; podemos escolher espontaneamente o rumo de nossa vida e o teor de nossas ações. E nisto podemos errar, cometendo graves danos, especialmente quando usamos mal da nossa liberdade e inteligência, desobedecendo a Deus.
Deus nos torna livre exercitando a liberdade, vivida com responsabilidade. É Deus que nos sustenta e nos mantém vivos, mas Ele não tira a nossa liberdade. Do contrário, não haveria merecimento, nem culpa de nossa parte. Não haveria dignidade no homem. Então, por isso, Ele não quer, mas permite a morte e o sofrimento no mundo. Mas sabe o que fazer com isso.
Aqui está o nó da questão: Deus respeitou e respeita a liberdade da criatura que lhe diz Não, embora Ele pudesse, e possa obrigá-la ao Sim – o que evitaria os sofrimentos, mas isto destruiria a grandeza do homem, que consiste em sua liberdade de opção. Sem isto o homem ficaria reduzido a um robô ou a uma marionete; não seriam mais imagem e semelhança de Deus; perderia a sua grandeza.
Depois de dar ao homem todas essas faculdades maravilhosas, Deus lhe deu o mundo em suas mãos, para cuidar dele como um jardineiro.
“O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo.” (Gen 2, 15).
Se o homem não cuida desse mundo bem, se não ama os irmãos, se não obedece às leis de Deus, então dá origem à dor, e isto não é culpa de Deus. Daí surge o pecado e o mal moral, que gera também o mal físico.
Deus não é paternalista; é Pai. Isto é, Deus não fica “passando a mão por cima” dos erros dos homens e consertando os seus estragos como fazem muitos pais; mas deixa que o homem que erra sofra as consequências do seu erro. Esta é a lei da justiça e direito que Deus segue quem erra deve arcar as consequências dos seus erros.
Os nossos erros geram sofrimentos para os nossos descendentes também. Os filhos não herdam os pecados dos pais, mas podem sofrer por causa dos efeitos desses pecados.
Eu sofro não só por causa dos meus pecados, mas também por causa dos pecados dos homens, de todos os tempos e lugares, especialmente daqueles que estão mais ligados a mim: parentes, amigos, etc. A humanidade é solidária. O primeiro pecado foi na origem da humanidade, o pecado original, e trouxe o sofrimento e a morte. Não era para a terra produzir espinhos e abrolhos, Deus disse a Adão; e não era pare ele tirar o pão de cada dia da terra com suor e sofrimento. Isto foi culpa do pecado do homem. A desordem do mundo, inclusive do mundo material é consequência do pecado; por isso São Paulo afirma que também a criação espera a libertação dos filhos de Deus.
É lógico que os vícios de um pai fazem sofrer os filhos e a esposa… Assim por diante. Deus não é o culpado de nada disso, e nem deseja nada disso. A culpa é nossa mesma.
Que culpa teria Deus, se, por exemplo, um pai irresponsável, passasse uma noite bebendo, e depois sofresse um acidente de carro e morresse por dirigir embriagado? Quem poderia acusar Deus de cruel, por ter tirado a vida de um pai, um esposo, e ter deixado órfãos e viúva?
Se você teimar em ligar o seu ventilador em uma tomada de 220 volts, quando o manual manda ligar em 110 volts, é claro que você vai queimar o motor do ventilador.
Isto ocorre porque você agiu contra o manual do projetista do  ventilador. O mesmo se deu e se dá com o mundo e com o homem. Temos um Projetista que fez o homem e o mundo belos, organizados, harmoniosos, mas não queremos respeitar o seu “Catálogo”; então, destruímos a sua bela obra e geramos o sofrimento.
Quando se diz que é preciso “aceitar a vontade de Deus”, diante do sofrimento e da morte, não quer dizer que foi Deus quem quis o mal, aquela tragédia, aquela doença, etc. Não. Deus não pode querer o mal. Mas Ele permite, porque não desrespeita as leis que Ele mesmo criou e, de modo especial, o nosso livre arbítrio. Deus respeita a nossa dignidade e semelhança a Ele. Deus entregou o mundo em nossas mãos.
Se Ele ficasse nos livrando das consequências dos nossos pecados, nunca nos tornaríamos filhos maduros.
“Deus não fez a morte nem tem prazer em destruir os viventes”, diz o livro da Sabedoria (1,13).
“Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza. É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão” (Sab 2,23).
A esperança e a confiança que o cristão tem em Deus, infinitamente sábio, fazem que ele sofra com paz; e isto não tem nada de masoquismo doentio, nem mesmo complacência na dor pela dor, pois isto não é evangélico.
Na sua Sabedoria e Bondade, infinitas, Deus achou por bem correr o risco de poder nos ver errar e sofrer. Foi o preço da nossa semelhança a Ele.
O Criador poderia estar constantemente vigiando o mundo, de modo que nunca houvesse algum desastre ou sofrimento. Mas esse procedimento seria menos digno de Deus, que deseja dar ao homem a oportunidade de se realizar, de se tornar grande, com liberdade e nobreza.
Deus não quer retirar do homem o precioso dom da livre opção; então, deixa o homem agir. Ele escreve reto por linhas tortas.
Felipe Aquino


QUE EU VEJA !

Todos precisamos pedir fé

Todos os milagres que Cristo fez, nos corpos ou nos elementos materiais, simbolizam os que Ele faz nas almas mediante a graça do Espírito Santo. Por isso, São João chama sinais os milagres de Jesus.

Dentre eles, as curas dos cegos simbolizam a luz da fé que Cristo traz aos olhos da alma. Assim o lembrava Bento XVI na homilia de encerramento do Sínodo dos Bispos, em 28 de outubro de 2012: "Sabemos que a condição de cegueira tem um significado denso nos Evangelhos. Representa o homem que tem necessidade da luz de Deus – a luz da fé – para conhecer verdadeiramente a realidade e caminhar pela estrada da vida".

Vejamos brevemente o sinal da cura do cego de Jericó, a que o Papa se refere nessa homilia. Estava Jesus de passagem pela cidade de Jericó. À porta da cidade, achava-se um mendigo cego chamado Bartimeu, pedindo esmola. Ouvindo a multidão que passava – acompanhando Jesus –, perguntou o que havia. Responderam-lhe: “É Jesus de Nazaré que passa”. Ele, então, exclamou: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim” (Lc 18,36-38).

Quando os olhos da alma estão cegos e não vemos a luz de Deus, somos semelhantes a Bartimeu. Só temos noções imperfeitas das coisas da vida e do mundo: somos cegos, ainda que pensemos que enxergamos tudo bem; ficamos parados, ainda que creiamos que avançamos rumo à realização; não conseguimos usufruir os verdadeiros bens e belezas da vida, por mais que procuremos espremer os prazeres até a última gota; e não percebemos que tudo o que apanhamos não passa de migalhas de «mendigo do sentido da vida»…

Podemos dizer que estamos satisfeitos? Não é verdade que, muitas vezes, na solidão e no silêncio, temos vontade de chorar sem saber o porquê, pois sentimos um estranho vazio, uma pobreza interior, uma escuridão inexplicável? Talvez Santo Agostinho possa projetar luz sobre a nossa amarga cegueira. Lembremo-nos só das palavras que citávamos na meditação anterior: «Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração estará inquieto enquanto não descansar em ti».

O Catecismo da Igreja Católica, que Bento XVI aconselha como chave-de-luz para este Ano da Fé, diz uma grande verdade: «O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Ele não cessa de atrair o homem a si e somente no Senhor o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar» (n. 27).
O primeiro passo para sairmos da cegueira que frustra o coração consiste em não sufocar o desejo de Deus que todos nós temos, desperto ou abafado, no fundo da alma; isso seria arrancar as nossas próprias raízes. Para tanto, precisamos a humildade de reconhecer a nossa indigência: «Condição essencial – dizia o Papa na homilia citada – é reconhecer-se cego, necessitado dessa luz; caso contrário, permanece-se cego para sempre (cf. Jo 9,34-41)».

Bartimeu desejava ardentemente ver: pediu, insistiu, e não parou até conseguir que Jesus o atendesse. “Que queres que te faça?” – Respondeu-lhe: “Senhor, que eu veja”. Jesus lhe disse: “Vê: a tua fé te salvou”. E imediatamente ficou vendo, e seguia Jesus, glorificando a Deus (Lc 18,41-43). Você não quer pedir “Faz com que eu veja”? Creia que não há ninguém que o tenha pedido com sinceridade e tenha ficado sem uma resposta. 

Santo Agostinho, antes da conversão, rezava assim: «A ti, meu Deus, elevam-se meus suspiros, e peço-te uma e outra vez asas para subir até ti. Se tu me abandonares, logo a morte se abaterá sobre mim…» (Solilóquios, n.6). Pedia, porque reconhecia que precisava de Deus, ainda que não tivesse a coragem de abraçar a fé e de seguir-lhe o caminho. Da mesma forma, São Clemente de Alexandria, que o Papa cita, fazia a seguinte oração: «Até agora andei errante na esperança de encontrar Deus, mas porque tu me iluminais, ó Senhor Jesus, encontro Deus por meio de ti, e de ti recebo o Pai, torno-me herdeiro contigo, porque não te envergonhaste de me ter por irmão. Cancelemos, portanto, cancelemos o esquecimento da verdade, a ignorância…» (Protréptico, 113 ss.)

Nos tempos modernos, vale a pena evocar a conversão do Beato Charles de Foucauld. Esse aristocrata ateu foi um devasso esbanjador; estudou a carreira militar na Academia de Saint Cyr, e foi oficial, explorador científico e aventureiro no norte da África. Após anos de vida intensa e de toda a sorte de experiências, o vazio da sua alma revelou-se de maneira aguda e o derrubou (Deus agia na noite do seu coração). Voltou à França e estando em Paris, em 1886, sentiu um tremendo puxão interior que o impelia, mesmo descrente, a ir a uma igreja. «Comecei a ir à igreja sem ter fé. Experimentei que só me sentia bem lá, ficando longas horas a repetir essa estranha prece: “Meu Deus, se tu existes, faz com que eu te conheça”».

A graça da fé o invadiu e, um dia, com a ajuda do padre Huvelin, converteu-se e entregou-se totalmente a Deus, o Amor descoberto. Viveu bastantes anos, pobre, paupérrimo, desprendido de tudo, como monge eremita, exercendo a caridade no meio das tribos tuaregs do Sahara. Ninguém o acompanhou. Hoje, milhares de cristãos em todo o mundo o têm como mestre e padroeiro.

Agradecido pelo grande dom da fé, fazia esta oração: «Como és bom, meu Deus, como me guardaste, como me agasalhaste à sombra das tuas asas quando eu nem acreditava na tua existência! … Como estou feliz! Meu Senhor Jesus, tu puseste em mim esse amor por ti, tão terno e crescente, esse gosto pela oração, essa fé na tua Palavra, esse sentimento profundo do dever da caridade, esse desejo de imitar-te, essa sede de oferecer-te em sacrifício o melhor que eu puder dar-te… Como tens sido bom! Como sou feliz!

Neste começo do Ano da Fé, vamos examinar os porões da nossa alma. Alguns dos que leiam estas palavras talvez não tenham fé. Outros a temos, mas que espécie de fé é a nossa? Será que já experimentamos, como consequência da fé, aquela alegria que ninguém pode tirar (cf. Jo 16,22)? Não? Então a nossa fé é fraca, pobre ou doente: é ainda uma “fé-mendigo”, que deve pedir esmola como o cego de Jericó. Sendo assim pobres, façamos como os pedintes. Supliquemos com Bartimeu: “Jesus, tem piedade de mim…, que eu veja!”.

Esta é, realmente, a primeira coisa que precisamos fazer, porque a fé é um dom divino. Nestes começos do Ano da Fé, Bento XVI recorda-nos uma verdade que os catecismos já nos explicavam desde a nossa infância: «Perguntemo-nos – dizia o Papa na quarta-feira, 24 de outubro de 2012 –: de onde haure o homem a abertura do coração e da mente para acreditar no Deus que se tornou visível em Jesus Cristo, morto e ressuscitado, para acolher a sua salvação, de tal modo que Ele e o Seu Evangelho sejam guia e luz da existência? Resposta: só podemos crer em Deus, porque Ele se aproxima de nós e nos toca, porque o Espírito Santo, dom do Ressuscitado, nos torna capazes de acolher o Deus vivo. Quer dizer que a fé é, antes de tudo, uma dádiva sobrenatural, um dom de Deus». 

Acrescenta o Papa que «a fé é dom divino, mas é também ato profundamente livre e humano». Nesta meditação, ficaremos só na primeira parte: o dom de Deus; sobre a segunda – o que o homem, além de pedir, deve fazer – trataremos nas próximas meditações. Que eu veja! Tomara que nos decidamos a “querer”, a rezar, a pedir, ainda que seja com a oração descrente com que Foucauld começou. Os Salmos oferecem-nos muitas súplicas “prontas”, maravilhosas. Transcrevo agora, para concluir, apenas algumas que talvez o possam ajudar: 

Como a corça anseia pelas fontes das águas, assim minha alma suspira por ti, ó meu Deus. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo! Quando irei ver a face de Deus? (Sl 41[42], 2-3).

– Escuta, Senhor, a voz da minha oração. Tem piedade de mim e ouve-me. Fala-te o meu coração; a minha face te procura. A tua face, ó Senhor, eu a procuro. Não escondas de mim o teu rosto (Sl 26[27], 7-9). – Tenha, Deus, compaixão de nós e nos abençoe. Faça resplandecer sobre nós a luz da Sua face! (Sl 66[67], 2).
Padre Francisco Faus