quarta-feira, 12 de setembro de 2012

NAVEGAR É PRECISO, MAS PARA ONDE ?

A missão dos leigos como contrutores da sociedade nova

Não parece, mas o Concílio Vaticano II está chegando ao seu jubileu áureo. Nunca a Igreja pôde acompanhar, com tantos detalhes, a evolução interna dos padres conciliares nem a recepção, às vezes tumultuada, de seus ensinamentos no meio do povo. Muitas de suas riquezas estão como e-mails ainda não acessados. Sem menosprezar os demais pontos altos do magno conclave, eu diria que há duas verdades, pouco ou nada abordadas, em Concílios anteriores: o verdadeiro rosto da diocese, ou Igreja local, e o papel dos leigos nos tempos atuais. Hoje, pretendo entrar um pouco neste segundo ponto, sobre o qual deliberaram os bispos da Santa Igreja, juntamente com seus assessores teológicos.

Antes de comentar o grande plano do Reino de Deus, permitam-me contar uma curtíssima “parábola”. Para haver uma boa construção deve existir um arquiteto, pelo menos um bom pedreiro e um servente de pedreiro. Na grande construção do Reino, o arquiteto é o Espírito Divino obviamente. O pedreiro é o leigo, para surpresa nossa, um novo sujeito eclesial. E o servente de pedreiro é aquele que distribui os sacramentos, o pão da Palavra e os serve à comunidade. Este é o sacerdote. 
Por que o Leigo é o construtor da sociedade nova? Porque ele está dentro do mundo econômico, nas vivências da saúde e da educação, na distribuição da justiça. Esse lugar é dele e não do clero primeiramente. Este entra em questão, mas de modo supletivo e na fase da motivação espiritual. Hoje, felizmente, redescobre-se a importância de sair do nosso cercado paroquial para levar a mensagem às pessoas que não estão n
o nosso aprisco. “Fazei discípulos meus todos os povos” (Mt 28, 19). 
Hoje se diz: "A Igreja é missionária, ou não é a Igreja de Cristo”. Nestes novos tempos, “é preciso evangelizar a todos”. Os freges, por invasão recíproca de atribuições, não são poucos, mas com paciência, vamos aprendendo sempre de modo melhor. O que ainda falta é a objetividade. Todos são desafiados a serem missionários e grandes evangelizadores; só não se fala o que deve ser feito. Somos como um grande navio que é desafiado a levantar âncoras, mas parece que todos ignoram para onde navegar.
Dom Aloísio Roque Oppermann scj

COMO DISCERNIR O QUE É BOM PARA NOSSA SALVAÇÃO ?

A lógica do Reino de Deus é diferente da nossa, e como filhos de Deus precisamos entrar na dinâmica do Senhor. Isso se faz pela confiança e pelo abandono no amor do nosso Criador, que nos deu este grande presente:“De sermos chamados filhos de Deus” (cf. I João 3,1b).
Naturalmente, somos muito inclinados a agir e a julgar pelas aparências e por nossas experiências anteriores, e na maioria das vezes, nos enganamos. Nem tudo o que parece bom aparentemente, é realmente bom; e nem tudo o que contraria a nossa natureza inicialmente, é, de fato, ruim.
Como discernir o que é bom para a nossa salvação? Como filhos de Deus precisamos humildemente perguntar ao Senhor todas as coisas, para que não fiquemos enganados e confundidos. No entanto, nem sempre o Senhor nos dá tudo o que pedimos, porque Ele só nos dá o que é bom e essencial para a nossa salvação. Nós vemos a aparência das coisas e o Todo-poderoso vê o interior.
Peçamos, hoje, ao Senhor a graça de vivermos dentro da dinâmica do Espírito Santo, para que a nossa mentalidade seja transformada, de forma que possamos ser fiéis à vontade d’Ele.
Jesus, eu confio em Vós!
Luzia Santiago

ELE FEZ BEM TODAS AS COISAS

Na obra criadora de Deus, existe a semente do bem

Ao modo de leitura orante da Palavra de Deus, chamada “Lectio Divina”, aproximemo-nos do Evangelho que a Igreja proclama nestes dias. Para tanto, comecemos bem longe, no princípio...“Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom” (Gn 1,31). Na obra criadora do Senhor, existe a semente do bem. O sábio, que identifica o sentido daquilo que o Pai fez, tem consciência de que “Deus não fez a morte, nem se alegra com a perdição dos vivos. Ele criou todas as coisas para existirem, e as criaturas do orbe terrestre são saudáveis: nelas não há nenhum veneno mortal, e não é o mundo dos mortos que reina sobre a terra, pois a justiça é imortal” (Sb 1,13-15). 

De fato, “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. Ela existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dela, e sem ela nada foi feito de tudo o que existe. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,1-3). E esta Palavra “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Jesus Cristo é o Verbo de Deus, Palavra eterna que se fez carne, em quem todas as coisas foram criadas, aquele que “faz bem todas as coisas” (Mc 7, 37), o que restaura toda a obra criadora do Pai, em quem tudo ganha sentido e valor (Cf. Ef 1,10).

Tornar-se discípulo da Palavra de Deus que se faz carne é acompanhar Jesus pelas estradas da vida e testemunhar o acontecimento da “nova criação”. Vamos lá! Jesus deixou a região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole, onde tinha chegado sua fama. Cercava-o a incompreensão a respeito de sua pessoa e de suas ações. O Evangelista São Marcos, o único que conta este episódio, mostra a entrada em cena de um surdo-mudo que, curado, torna-se um sinal da abertura para acolher o mistério de Jesus. Pedem que o Senhor imponha as mãos sobre o homem.
Jesus, tomando-o à parte, longe da multidão, leva a sério sua presença e sua situação, pôs os dedos nos seus ouvidos, tocou com a própria saliva a língua do homem, olhou para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te”. Imediatamente, os ouvidos do homem se abriram, sua língua soltou-se e ele começou a falar corretamente. Jesus recomendou, com insistência, que não contassem o ocorrido para ninguém. É que o anúncio do Evangelho e a resposta da fé devem ser os únicos sinais inequívocos da inauguração dos novos tempos que se realizam com sua chegada. Contudo, quanto mais ele insistia, mais a notícia se espalhava! Cheios de grande admiração, todos diziam: “Tudo ele tem feito bem. Faz os surdos ouvirem e os mudos falarem” (Cf. Mc 7,31-37). Em Jesus Cristo se realizam as promessas antigas reportadas pelo profeta Isaías (Is 35,4-7). Ele realiza uma nova criação e é portador da salvação definitiva. Ele é a Salvação!
Os gestos de Jesus, que faz tudo bem feito, os dedos nos ouvidos do homem, a saliva na boca, o suspiro, a palavra forte que abre os sentidos humanos para Deus, conduzem ao nosso batismo, quando fomos introduzidos numa nova vida. Abram-se nossos sentidos da fé para reconhecer o Salvador e participarmos todos da nova criação! A consequência será um olhar otimista em relação às pessoas e situações, começando pela nossa própria vida. A esperança brotará quando entendermos que Jesus não é um milagreiro à nossa disposição, mas o Salvador, cuja presença e ação conferem novo e definitivo sentido à existência.

Os homens e mulheres renascidos pelo batismo são chamados a se comprometerem com esta nova criação. Cabe-lhes passar pela terra fazendo o bem e fazendo tudo bem feito! Nenhum recanto do mundo fique privado da
 presença dos cristãos. Antes, aceitem o desafio de transformá-lo a partir de dentro. Uma nova mentalidade ilumine o mundo do trabalho, a política, as relações sociais. E os valores da eternidade, já presentes nesta terra pelo mistério de Cristo, se espalharão por toda parte, pois ele faz bem todas as coisas.

Sabendo que somos frágeis para enfrentar tamanha empreitada, pedimos confiantes com a Igreja (oração do dia do vigésimo terceiro domingo do Tempo Comum): “Ó Deus, Pai de bondade, que nos redimistes e adotastes como filhos e filhas, concedei aos que creem em Cristo a verdadeira liberdade e a herança eterna”.
Dom Alberto Taveira Corrêa