quinta-feira, 3 de novembro de 2011

CORAÇÕES RESTAURADO

Há momentos em nossa vida que os sonhos e ideais se despedaçam; tudo parece sem sentido e, no labirinto de nossos problemas, não conseguimos achar solução. Com certeza já tivemos, em algum momento, este sentimento: “Não vou conseguir me reerguer. Tudo está perdido!”. Em meio à desilusão, nossas manhãs são sempre sombrias. O sol de um novo dia se esconde atrás de nossas frustrações e decepções. Nossas noites não são mais estreladas e o inverno que chega parece não mais querer partir.
Somos tão frágeis como um vaso de barro; quebramos com facilidade. Um olhar de indiferença, uma ajuda negada ou uma expectativa não realizada pode partir nossa alma em mil caquinhos. Mas nossa fragilidade humana nos põe diante d’Aquele que nos renova e restaura.
O que é restaurar? É consertar, recuperar, deixar em bom estado. Com o tempo, muitos objetos vão perdendo suas cores naturais; o processo de restauração de algum objeto ou imagem é algo de extrema delicadeza. Conheço uma imagem de um santo que sofreu inúmeras pinturas por pessoas que desconheciam o valor histórico dessa imagem. Com certeza, a pintura original desta era bem diferente das tintas que foram usadas nela ao longo dos anos. Cada pessoa deve ter pintado a imagem a seu gosto.“Jesus é o grande restaurador de corações”
Com o ser humano acontece o mesmo processo. Ao longo do tempo, vamos pintando nossa alma de inúmeras cores, desejos e sonhos. Chega um determinado momento na vida do ser humano que ele já não se reconhece mais, não sabe mais qual era sua identidade original, pois assumiu identidades que não eram suas. Coloriu sonhos com cores que não dariam uma tonalidade de esperança.
Muitas vezes, acostumamo-nos com os cacos de uma existência sem sentido, procuramos restauradores desqualificados e entregamos nosso coração a projetos de restauração enganosos.
Jesus é o grande restaurador de corações. Ele devolveu a dignidade humana aos excluídos de seu tempo. Prostitutas, ladrões e leprosos tiveram suas vidas restauradas pelo Senhor. Os cacos de uma vida sem dignidade foram juntados, e uma vida nova nasceu. O que antes era apenas uma vida de lágrimas e dores, passou a ser uma linda manhã de novas esperanças.
Os cacos de nossa vida podem se tornar a mais bela obra de arte da história. O mestre da restauração nos espera com um sorriso de alegria e paz. O olhar de Deus é sempre de esperança e de acolhida. O nosso projeto original é de vida em plenitude. As pinturas do engano e os cacos de um passado sem sentido esperam a restauração de um novo tempo.

VISITA DE MARIA

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Ela é a grande serva de Deus e, ao mesmo tempo, dos homens

Toda nossa vida, quando é autenticamente cristã, está orientada para o amor. Só ele torna grande e fecunda nossa existência e nos garante a salvação eterna. Sabemos que esse amor cristão tem duas dimensões: a dimensão horizontal de amar os homens, nossos irmãos; e a dimensão vertical de amar a Deus, nosso Senhor.
É fácil falar de amor e de caridade, mas é difícil vivê-los, porque amar significa servir, e servir exige renunciar a si mesmo.
Por isso, o Senhor nos deu como imagem ideal a Santíssima Virgem. Ela é a grande serva de Deus e, ao mesmo tempo, dos homens.
Na hora da Anunciação, Ela se proclama escrava do Senhor. Entrega-lhe toda sua vida para cumprir a tarefa que Deus lhe encomenda através do anjo. Ela muda no ato todos seus planos e projetos que tinha, esquece-se completamente de seus próprios assuntos.
O mesmo acontece com Isabel. Maria fica sabendo que sua prima vai ter um filho e parte logo, apesar do longo caminho, para permanecer por três meses com ela, servindo-a até o nascimento de João Batista. Ela não se imagina superior em nenhum momento, não busca pretextos por não poder se arriscar numa viagem tão longa pelo fato de estar grávida. Faz tudo isto, porque sabe que, no Reino de Deus, os primeiros são os que sabem se converter em servidores de todos.
Também nossa própria vida cristã deve formar-se e desenvolver-se nestas mesmas duas dimensões: o compromisso com os irmãos e o serviço a Deus. Não se pode separar uma dimensão da outra. Por isso, quanto mais queremos nos comunicar com os homens, tanto mais devemos estar em comunhão com Deus. E quanto mais queremos nos aproximar de Deus, tanto mais devemos estar próximo dos homens.
O que mais nos diz o Evangelho? Conta-nos alguns acontecimentos milagrosos no encontro das duas mulheres: a criança salta de alegria no ventre de sua mãe; Isabel se enche do Espírito Santo, reconhece o Senhor presente e começa a profetizar. E nós nos perguntamos: é a Santíssima Virgem quem realiza esses milagres? Isto pode ser explicado apenas pela íntima e profunda união entre Maria e Jesus. Essa união começa com a Anunciação e dura por toda sua vida e além dela. Pela primeira vez se manifesta no encontro de Maria com Isabel.
Maria nunca atua sozinha, mas sempre numa união perfeita entre Mãe e Filho. Onde está Maria, ali está também Jesus. É o mistério da infinita fecundidade de sua vida de mãe. E se nós queremos ser como Ela, então deve ser também o mistério de nossa vida. Em que sentido? Unimo-nos, nos vinculamos com Maria, nossa Mãe e Rainha. E então, o que Ela faz? Ela nos vincula, com todas as raízes de nosso ser, com seu filho Jesus Cristo.
Maria é a terra de encontro com Cristo e ela nos conduz até Ele, nos guia, nos cuida e nos acompanha em nosso caminhar rumo a Ele. Mas Maria não apenas nos conduz para Cristo, mas traz, primeiramente, Jesus ao mundo e aos homens. É sua grande tarefa de Mãe de Deus. E em sua visita, a casa de Isabel realiza, por primeira vez, esta sua grande missão: leva a ela seu Filho. E o Senhor do mundo, encarnado em seu corpo maternal, manifesta sua presença por meio daqueles milagres.
Maria o fez há mais de 2000 anos. Mas o faz também hoje: traz Cristo a todos nós.
Padre Nicolás Schwizer
Movimento apostólico Shoenstatt

DOIS AMORES QUE SE COMPLETAM

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Sem o amor ao próximo não existe amor a Deus


No Antigo Testamento, na TORÁ (Lei mosaica), havia 613 preceitos ou mandamentos: 248 prescrições positivas e 305 proibitivas. Já se falava e praticava o amor a Deus e ao próximo, até mesmo de grupos que priorizavam um ou outro. No Evangelho São Mateus (conf.Mt 22,34-40), todos - fariseus, escribas e especialista na Lei -, concordavam que o maior mandamento era o amor a Deus, como está em Dt.6,5. O grupo de fariseus que perguntam a Jesus qual deles era o maior, interrogaram-No com intenção maldosa, maliciosa, fazendo uma armadilha para acusá-Lo em alguma coisa. O Senhor, no entanto, percebendo a malícia da pergunta, os desarma e os desmascara com Sua resposta. Jesus equiparou o amor a Deus ao amor ao próximo; ambos estão no mesmo plano, são o resumo de todos os preceitos. "Toda lei e os profetas dependem desses dois mandamentos", quer dizer, toda a Escritura.
  Há mais de 20 anos a.C, o rabino Hilel já ensinava: "não faças a outro o que não queres para ti. Isto é toda a Lei; o resto é comentário”. Jesus devia conhecer tal afirmação contida em Lv.19,18. No entanto, foi mais além ao afirmar que o segundo mandamento, "amar ao próximo" é semelhante e se equipara ao primeiro (amar a Deus). Amar a Deus e ao próximo. Explicitando, quer Jesus afirmar e ensinar: amar ao Senhor servindo ao próximo; amar a Deus no próximo. São dois amores que se completam. Um não existe sem o outro, ou então, um se manifesta através do outro. O amor a Deus passa necessariamente pelo amor ao próximo, “a fim de que um dia entremos em plena posse do mistério que agora celebramos”.
  De fato, sem o amor ao próximo não existe amor a Deus, nem lei, nem fidelidade; é tudo mentira, como diz a Primeira Carta a João 4,20. O que Jesus propõe é muito claro: precisamos amar o próximo com a totalidade do nosso ser (inteligência,vontade e afeto). Jesus exige que amemos até os próprios inimigos, do mesmo modo como Deus os ama (Mt.5,44-48). Mas este amor deve ser traduzido em gestos concretos de fraternidade e solidariedade. Só assim será sinal do nosso amor a Deus.
  O amor ao Senhor e ao próximo são como uma moeda de duas faces. Um amor não se opõe ao outro, completam-se. Nosso amor a Deus é fonte de serviço ao próximo. Assim como o nosso amor a Deus exige o nosso encontro com Ele, assim também devemos nos fazer próximos do outro. Apenas frequentar a Igreja e não se interessar pelo próximo é enganar a si próprio.
Dom Eurico S. Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)